Segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024.

Perder-se dentro de si parece um processo doloroso, e é. Mas é o único caminho para se descobrir e se reinventar. Ter a coragem de questionar a si mesmo, de se enxergar como é, despido de qualquer amarra, definitivamente não é para qualquer um. Infelizmente, nem sempre seguir o caminho já conhecido e, consequentemente, mais simples, é uma opção. No dia 29 de janeiro foi celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans, uma data que une histórias incríveis de pessoas que dão voz às causas relacionadas ao processo de transição de gênero. 

‍

Thomaz Andrade é uma dessas vozes que gritam no silêncio. Isso porque ele entende o impacto que o simples fato de compartilhar sua experiência pode causar naqueles que se reconhecem e se sentem acolhidos por suas palavras. Desde 2022 no time de CX do Hurb, ele não perde a oportunidade de trazer suas perspectivas sobre as lutas de gênero e educar quem estiver disposto a se colocar no lugar do outro. E sim, educar é a palavra, pois empatia sem contexto não sai do papel.

‍

Transição de gênero é um processo de se reconhecer e renascer. Ele pode ser solitário, mas não precisa ser. No nosso bate-papo, Thomaz contou como foi para ele entender o turbilhão de sentimentos que o acompanhava ao longo da sua juventude e como foi externalizar isso para o mundo. Apesar de sentir que tinha algo diferente pulsando dentro de si, a falta de informação disponível na época fez com que ele demorasse a perceber o que era. E, mesmo se vendo fora da caixinha que o colocavam, ele também não conseguia apontar a qual pertencia. Isso porque mesmo na diferença existem padrões. Ele conta que sempre foi muito feminino e não se identificar naquele corpo o confundia. 

‍

Já no final da sua adolescência, ainda dentro deste contexto agitado de descobertas, ele pode contar com uma rede de apoio que o confortou com a certeza de estar seguro e de ser amado por aqueles que o cercavam: sua família e amigos. Mas, infelizmente, essa ainda não é uma realidade para todos. Uma curiosidade: Thomaz se utilizou da história de Ivana, interpretada pela atriz Carol Duarte, personagem da novela da TV Globo “Força do Querer”, de 2017, que passou pelo processo de transição de gênero, para explicar a sua mãe toda a jornada que estava percorrendo. Isso só reforça a importância em dar visibilidade ao tema, fomentar debates e discussões e compartilhar as diversas experiências.

‍

Em 2020, Thomaz deu entrada na documentação para mudar de nome e gênero oficialmente. A burocracia foi grande e cansativa: até se alistar no exército foi preciso para obter o registro de dispensa. Mas, no final, tudo valeu a pena. A escolha do nome foi outro longo processo, pois precisava representar a força e a grandeza de sua personalidade. Não seria uma decisão fácil. E não foi. Depois de escolhido, foi preciso alguns ajustes para afastar a simplicidade e dar um toque de ousadia: Thomaz foi o escolhido. 

‍

Arrojado e inquieto. No trabalho, é um ávido aprendiz. Filho de uma artesã de mão cheia, ele sempre buscou explorar e aflorar seu lado artístico. Nesse sentido, ele conta no papo como a maquiagem foi, e ainda é, uma ferramenta para se expressar, além do desenho, fotografia, design e outras muitas formas de dar vazão a sua agitação interior. Para arrematar a sua personalidade, nosso hero é enfático ao dizer que ama conversar e que se deixar vai por horas a fio. Afinal, qual a melhor forma de alimentar uma alma criativa que não através das trocas e conexões pelo caminho? No entanto, engana-se quem pensa que, por ser bastante comunicativo, sua escuta não seja afiada. Thomaz se orgulha de ser uma pessoa que sabe ouvir e acolher o outro.

‍

Com apenas 24 anos, Thomaz tem um mundo de possibilidades pela frente e alguns planos já estão em vista. O céu é o limite. Mas apesar da pouca idade, sua bagagem é robusta e enriquecedora. Qualquer um que queira bater um bom papo com ele e beber dessa fonte é sempre mais que bem-vindo. E digo isso por experiência própria. 

‍