Turismo do sono atrai viajantes que pagam diárias a partir de R$ 1 mil para relaxar e dormir

Acomodações

Por O Globo - Turistas de alta renda buscam lugares especializados em relaxamento e que oferecem os melhores sonhos. Tendência mundial começa a inspirar iniciativas no Brasil

Enquanto há quem dispense algumas horas de sono para aproveitar ao máximo os destinos de férias, outros viajam para... dormir. E pagam caro. O excesso de trabalho, a rotina agitada das metrópoles e a exigência de se estar disponível on-line dificultam cada vez mais o relaxamento completo. Essa realidade, particularmente de profissionais estressados e endinheirados, turbina o turismo do sono, uma nova tendência que começa a chegar no Brasil.

O Spa do Sono foi idealizado pelo Grupo Valor do Tempo na cidade portuguesa de Coimbra para proporcionar os melhores sonhos, literalmente. Além das instalações propícias ao relaxamento, os funcionários são treinados para não perturbar quem só quer desfrutar do silêncio.

A diretora de Marketing do hotel, Sonia Felgut, conta que o empreendimento foi idealizado por um professor de História que tinha insônia. O local dispõe de mais de mil livros, de Shakespeare a Fernando Pessoa, para o relaxamento dos hóspedes, uma das formas de escapar da realidade.

O hotel ainda oferece, por um valor adicional, acesso VIP à biblioteca barroca Joanina, construída a pedido de D. João V e que serviu de inspiração para a decoração do local.

São apenas 15 quartos. Tudo ali é pensado para permitir que o hóspede se desligue completamente e durma confortavelmente. Pode-se escolher entre dez tipos diferentes de travesseiros, todos de penas de ganso. As camas, da marca Hästens —fornecedores da família real sueca —, são confeccionadas por artesãos apenas com materiais naturais, incluindo até crina de cavalo, que absorve o suor.

— A sensação é a de estar dormindo nas nuvens — conta Sonia. — Disponibilizamos também vídeos com uma especialista do sono, que explica a melhor postura para dormir, oferecemos refeições leves e, nos quartos, em vez de café, há chás relaxantes de camomila e gengibre.

A maioria dos clientes, segundo ela, é de brasileiros e americanos, entre 45 e 65 anos, que buscam experiências exclusivas. Todo esse luxo não sai por menos de € 500 (cerca de R$ 2,8 mil) por dia.

As Ilhas Maldivas, no Oceano Índico, que povoam os sonhos de muitos turistas, também estão se tornando um destino de sono. O hotel Six Senses Laamu, por exemplo, tem um programa de bem-estar que inclui monitoramento do sono, ioga, meditação, personal trainer, massagem holística e orientação nutricional, entre outros serviços para um descanso total.

É possível escolher esse acompanhamento, que não está incluso na diária, pelo período de três, cinco, sete ou dez dias. O valor varia de US$ 980 a US$ 2,2 mil (R$ 5,1 mil a R$ 11,4 mil) por pessoa.

O criador de conteúdo sobre turismo de luxo André de Mello, de 40 anos, já foi às Maldivas cinco vezes para se hospedar no Six Senses Laamu e em empreendimentos parecidos. Ele conta que a experiência começa ao desembarcar no aeroporto:

— Cada hotel é numa ilha particular. Você chega no aeroporto e é direcionado a um lounge do resort para esperar pelo barco ou hidroavião que o levará ao hotel. Ali já tem massagistas, bebidas.

Luxo de pé descalço

Ainda no barco, os sapatos são requisitados pelos funcionários. O luxo de pé descalço é para não ter preocupação nem sobre o que vestir. Ao contrário de outros destinos extravagantes, a ideia é que o viajante não tenha que pensar em roupas elegantes e desconfortáveis. A ordem é não ser visto e, de fato, relaxar.

— São momentos mágicos. Todo mundo hoje em dia está sobrecarregado de alguma forma, estressado. Quem tem a oportunidade de ter essa experiência não deve pensar duas vezes. A gente volta com as baterias recarregadas — diz Mello.

O portal de viagens Hurb notou um aumento na oferta de hotéis do sono. Com diárias a partir de R$ 2.500, o Zoetry Agua Punta Cana, na República Dominicana é outro oásis que desponta no segmento. Localizado discretamente entre frondosas árvores, o hotel não aceita crianças, nem tolera gritos.

Em Marsala, na Itália, o Sea Water Hotel foca em mente e corpo com o seu spa medicinal. E no México, na Playa del Carmen, o Rosewood Mayakoba tem um programa de relaxamento e sono em que o participante passa por um ritual para aguçar os cinco sentidos.

— A hotelaria internacional é bem avançada nesse quesito de bem-estar, e esses hotéis representam de 2% a 3% das nossas vendas. Mesmo sendo um número ainda tímido, vemos que está em ascensão e tem grande potencial de crescimento. Mapeamos e temos estruturado novas contratações e prospecções para oferecer o melhor aos nossos viajantes — revela a head comercial do Hurb, Lia Coutinho.

Tranquilidade por aqui

Para a turismóloga Marianna Teles, o turismo do sono ainda não deslanchou no Brasil pelo alto custo. Mas, viagens para destinos tranquilos, onde os viajantes podem descansar, são mais procuradas.

— A qualidade de vida, que não era muito falada antes, tem sido o foco de muitas pessoas, principalmente no período pós-pandemia, em que o mundo viu o quanto a saúde é importante. E sono é saúde — analisa Marianna.

Daniela Araujo, diretora de Produtos Aéreos da Decolar, afirma que há maior interesse por locais que permitem o contato com a natureza, como praias, chapadas e as serras gaúcha e catarinense no Brasil:

— Aluguel por temporada é outra tendência em alta, permitindo aos viajantes escolher um espaço que atenda suas necessidades específicas, como a busca por uma estadia mais tranquila, que favoreça o repouso — completa.

Sintonizado com a tendência, o Atiaia Spa, no Hotel Grand Hyatt, na Zona Oeste do Rio, oferece aos hóspedes mimos para prepará-los para uma boa noite. Há um tratamento que harmoniza o campo energético da pessoa enquanto acalma, relaxa o corpo e estimula o sono.

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Ao retornar para sua acomodação, o hóspede encontra o ambiente aromatizado com óleo essencial de lavanda e o som de mantras, além de uma cama superconfortável. Segundo a gerente de Marketing da rede, Mariana Pedrosa, a maior parte do público é composto por mulheres a partir de 35 anos. Tarifas giram em torno de R$ 1 mil.

— Notamos a tendência do turismo do sono fora do Brasil e queríamos trazer essa proposta para o nosso hotel. Dormir bem é um hábito essencial para que possamos viver uma vida plena e exercer nossas funções diárias com mais disposição e energia. Queremos fazer a diferença no dia a dia das pessoas — diz Mariana.

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